quarta-feira, 11 de maio de 2011

Sobre o livro "O Sol Bailou ao Meio-Dia"


Luís Filipe Torgal - O Sol Bailou ao Meio-Dia. Tinta da China. 2011.

As «aparições» de Fátima (1917) ocorreram num dos momentos económicos, sociais e políticos mais difíceis e mais dramáticos da história de Portugal, que bem podia sistematizar-se na trilogia do caos: «fome, peste e guerra». Nesse período, mas, sobretudo, anos antes, havia-se registado uma grande ofensiva dos governos republicanos em defesa da laicização do Estado e da secularização da sociedade, que acabou por restringir como nunca os privilégios e as liberdades da Igreja Católica. Rebentou a Primeira Guerra Mundial, onde Portugal teve uma participação controversa e trágica. Estoiraram motins e rebeliões. Proliferaram epidemias agudas de tifo e varíola e eclodiu depois a pandemia da «gripe pneumónica». Acentuou-se a crise económica e financeira, que gerou inflação galopante, falta de víveres essenciais, racionamento, pobreza, miséria e fome. Nesta conjuntura de extrema adversidade, surgiu, na Cova da Iria, um culto popular espontâneo que logo se propagou num país católico, rural, analfabeto e dado a superstições e a devoções messiânicas. Um culto popular que — como este livro pretende demonstrar — a Igreja Católica desde muito cedo estimulou, disciplinou, enquadrou ideologicamente e apresentou, com grande sucesso, a Portugal e ao Mundo.

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